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Tipos de Discursos

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Discurso Direto

Discurso aqui deve ser entendido como a maneira que o narrador "deixa" a fala de suas personagens serem reproduzidas ou reproduz o que falam. São três os tipos de discurso: direto, indireto, indireto livre.

Discurso Direto

O mais comum de todos, nele o narrador "deixa" a personagem falar diretamente com o leitor, reproduzindo integralmente o que ela diz. Geralmente, usa-se o travessão para iniciar tal discurso.

Leia: O menino suportou tudo com coragem de mártir, apenas abriu ligeiramente a boca quando foi levantado pelas orelhas: mal caiu, ergueu-se, embarafustou pela porta fora, e em três pulos estava dentro da loja do padrinho, e atracando-se-lhe às pernas. O padrinho erguia nesse momento por cima da cabeça do freguês a bacia de barbear que lhe tirara dos queixos: com o choque que sofreu a bacia inclinou-se, e o freguês recebeu um batismo de água de sabão.

- Ora, mestre, esta não está má!...
- Senhor, balbuciou este... a culpa deste endiabra- do...
O que é que tens, menino?
O pequeno nada disse; dirigiu apenas os olhos espantados para defronte, apontando com a mão trêmula nessa direção.
O compadre olhou também, aplicou a atenção, e ouviu então os soluços da Maria.
- Ham! resmungou; já sei o que há de ser... eu bem dizia... ora ai está!
E desculpando-se com o freguês saiu da loja e foi acudir ao que se passava.
Por estas palavras vê-se que ele suspeitara alguma coisa; e saiba o leitor que suspeitara a verdade.

(Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida)

O discurso direto é considerado mais "natural"; o narrador, para introduzi-lo na narrativa precisa utilizarse dos chamados verbos dicendi ou declarativos, que introduzem as falas das personagens. Os verbos mais frequentes são: falar, dizer, observar, retrucar, responder, replicar, exclamar, aconselhar, gritar. Antes das falas das personagens aparece, com frequência, o uso de dois pontos e travessão. Há autores, no entanto, que preferem, em vez do travessão, colocar entre aspas as falas das personagens.

"Quando lhe entreguei a folha de hera com formato de çoração (um coração de nervuras trementes se abrindo em leque até as bordas verde- azuladas), ela beijou a folha e levou-a ao peito. Espetou-a na malha do suéter: "Esta vai ser guardada aqui." Mas não me olhou nem mesmo quando eu saí tropeçando no cesto."

(Lígia Fagundes reles, "Herbarium", in Os melhores contos)

"Não sei o que me aconteceu, o pau estava no chão, agarrei-o e fiz o risco, Nem lhe passou pela ideia que poderia ser uma varinha de condão, Para varinha de condão pareceu-me grande, e as varinhas de condão sempre eu ouvi dizer que são feitas de ouro e cristal, com um banho de luz e uma estrela na ponta, Sabia que a vara era de negrilho, Eu de árvores conheço pouco, disseram-me de- pois que negrilho é o mesmo que ulmeiro, sendo ulmeiro o mesmo que olmo, nenhum deles com poderes sobrenaturais, mesmo variando os nomes, mas, para o caso, estou que um pau de fósforo teria causado o mesmo efeito, Por que diz isso, O que tem que ser; tem de ser; e tem muita força, não se pode resistir-lhe, mil vezes o ouvi à gente mais velha, Acredita nafatalidade, Acredito no que tem de se!: "

(José Saramago, Jangada de Pedra, Record, J 999)

Discurso indireto

Como o próprio nome esclarece, o narrador "fala" indiretamente por sua personagem. Para tanto, terá que usar, necessariamente, as conjunções integrantes que e se ao introduzir tal discurso. Veja o exemplo:

"E a madrinha, Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não era visto, mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu que do meio para o fim é que era mais difícil."

(Antônio de A. Machado, NO Inteligente CíceroN, in Laranja da China, Ed. )

Fôssemos passar o trecho acima para discurso direto, teríamos:

E a madrinha, Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não era visto, mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu:
- Do meio para o fim é que é mais difícil.

Outros exemplos:

"Miguilim chorou de bruços, cumpriu tristeza, soluçou muitas vezes. Alguém disse que aconteciam casos, de cachorros dados, que levados para longes léguas, e que voltavam sempre em casa. Então, ele tomou esperança: a Pingo-de-Ouro ia volta!"

(João Guimarães Rasa, Campo Geral, in Manuelzão e Miguilim, José Olímpio Editora)

"No noivado da sua caçula Maria Aparecida, só por brincadeira, pediu que uma cigana muito famosa no bairro deitasse as cartas e lesse seu futuro. A mulher embaralhou as cartas encardidas, espalhou tudo na mesa e avisou que se ela fosse no próximo domingo à estação rodoviária, veria chegar um homem que iria mudar por completo sua vida (...)."

(Lígia Fagundes Teles, Pombo Enamorado, Os Melhores Contos, José Olímpio Editora)

Discurso indireto livre

O mais difícil de todos: é resultado da mistura entre os dois outros discursos. Há dois pressupostos básicos para que aconteça nas narrativas:

a) narrador em terceira pessoa;
b) narrador onisciente.

Muito usado nas narrativas contemporâneas, este tipo de discurso quase não se registra, por exemplo, no Romantismo. O Realismo de linha de análise psicológica experimentou-o, mas coube à narrativa moderna desenvolvê-lo e usá-lo como recurso dos mais expressivos. Podemos defini-lo como sendo a captação do pensamento das personagens que vêm à tona num texto de terceira pessoa, sem nenhuma marca indicadora de Discurso Direto (travessão, aspas) ou Indireto (as conjunções integrantes):

"Entregue aos arranjos da casa, regando os craveiros e as panelas de losna, descendo ao bebedouro com o pote vazio e regressando com o pote cheio, deixava os filhos soltos no barreiro, enlameados como porcos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. nnha o direito de saber? nnha? Não tinha. "

(Vidas Secos - Graciliano Romos)

"Mas a água, só a que lhe inundou de repente as partes, e lhe escorria pelas coxas abaixo, quente, viscosa, pesada...
Estremeceu. Poderia ainda continuar? Poderia ainda arrastar-se, cheiadefebre, extenuada, emferida,pelaserra a cabo? E as dores, cada vez mais apertadas, que a varavam de lado a lado, a princípio rastejantes, quase , voluptosas, e depois piores que facadas? Não, não podia continua1: Agora só atirar-se ao chão e, como no dia de São Martinho, rolar sobre a terra em brasa, negra, saibrosa, eiçada de tocos carbonizados, sem palha centeia e quebrar a dureza das arestas, e sem o desavergonhado. do Armindo a cantar-lhe loas ao ouvido... Aguilhoado de todos os lados, o corpo começou a torcer-se, aflito. "

(Miguel Torga, HMadalena., Os Bichos, Coimbra)

Elaboração: Equipe Aprovação Vest

Tópicos Abordados

  • o que é uma personagem;
  • o que e narrador;
  • o que é o texto narrativo;
  • como fazer a redação de texto;